Mansplaining, você já ouviu falar disso? Saiba por que te afeta
Talvez você nunca tenha ouvido falar sobre mansplaining, mas se é mulher, pode já ter passado por ele. Vem saber o que é!
Em uma conversa com um cara, você já teve a sensação de que ele estava explicando algo óbvio pra você de uma forma super didática? Talvez você até soubesse mais do que ele sobre o assunto, mas se sentiu subestimada ou até duvidou do seu conhecimento. Se você já esteve nessa situação, não está sozinha. A prática é tão comum que até ganhou nome: mansplaining. O termo em inglês é uma junção de “man” (homem) com “explaining” (explicando).
Mansplaining
O termo é usado para descrever a situação na qual um homem tenta explicar algo para uma mulher, assumindo que ela não sabe nada sobre o assunto. Muitas vezes, a explicação ocorre em tom paternalista, como se a mulher não fosse capaz de entender ou precisasse de ajuda para compreensão.
Vamos supor que você seja uma ótima aluna em exatas e decida participar das olimpíadas de matemática com o time da escola. Se os seus colegas garotos subestimam os seus conhecimentos, não deixam você responder às perguntas e ainda tentam te explicar o básico sobre aqueles temas nos quais você é fera – isso pode ser considerado mansplaining.
Outro exemplo de mansplaining é quando você é especialista em algo, mas o seu conhecimento é subestimado. Digamos que você esteja estudando direito e um colega, engenheiro, tente te explicar o básico sobre leis. Ou que você seja enfermeira e o seu tio, que não trabalha na área da saúde, tente te aconselhar sobre como administrar um remédio. Haja paciência, né? 🙄
Um artigo publicado no jornal americano The New York Times afirma que apesar de o termo mansplaining ter caído na moda recentemente, a prática é documentada desde pelo menos o século 17 (!!!). “Acontece no trabalho e em datas comemorativas. Em mesas de bar e em salas de aula. Homens famosos fazem isso. Tios fazem isso. Políticos, colegas, namorados, burocratas e vizinhos”, diz o texto.
Não fique em silêncio: enfrentando o mansplaining
O artigo do jornal americano cita uma pesquisa da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, que revela alguns dos impactos do mansplaining na vida das mulheres. O estudo foi feito em 2004 com estudantes de direito da universidade americana.
Os pesquisadores descobriram que homens tinham 50% mais probabilidade de fazer comentários durante as aulas. Além disso, eram quase 150% mais propensos a se voluntariar para responder perguntas ou fazer apresentações.
O mansplaining é uma consequência da sociedade patriarcal em que estamos inseridas – na qual o homem é o chefe da família e ocupa cargos de liderança. A entrada das mulheres no mercado de trabalho ainda é super recente: ela ocorreu com as duas Guerras Mundiais (1914 - 1918 e 1939 - 1945), quando as mulheres passaram a assumir a responsabilidade por sustentar a família enquanto os homens iam para a batalha.
Desde então, as mulheres vêm lutando para ocupar posições igualitárias aos homens na sociedade. Segundo uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2022, com exclusividade para o portal de notícias G1, as mulheres ganham, em média, 20,5% menos do que homens no Brasil.
Ao mesmo tempo, as mulheres têm escolaridade mais alta do que os homens, o que significa que são mais propensas a terminar os estudos e a se dedicar ao Ensino Superior.
Parece contraditório, né? Mas essa realidade tem muita lógica: muitas vezes, mulheres sentem que precisam ser muito qualificadas para estar à altura de um cargo de liderança, ou até mesmo para dar opiniões em uma conversa de bar.
Já os homens, mesmo sem entender tanto sobre o assunto, podem se sentir no direito de ocupar cargos complexos ou de explicar coisas básicas para as mulheres.
Como tudo na vida, não dá para generalizar. Não é sempre que seus amigos ou colegas estão praticando mansplaining quando explicam algo para você. Mas vale ficar atenta a isso e fazer valer o seu conhecimento e as suas opiniões. Empodere-se e confie no seu taco 😉.
Camila Luz
Jornalista formada pela Cásper Líbero, estudou Mídias Internacionais na Université Paris 8 e é mestre em Jornalismo e Direitos Humanos, com especialização em Diplomacia, pela Sciences Po Paris. Escreve sobre saúde, ciência e tecnologia desde 2016, com maior dedicação à saúde da mulher. Também é consultora em comunicação para organizações internacionais. Vive em Washington D.C. (EUA) e é fã assídua dos livros da Elena Ferrante.