Prevenção de ists no sexo entre vulvas
Quando o assunto é a prevenção de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), ajudar mulheres que transam com mulheres a praticar sexo seguro ainda parece um desafio. Um pouco pela falta de métodos específicos de proteção, pensados para o sexo entre vulvas, e muito por conta do preconceito e da falta de conhecimento por parte dos profissionais e órgãos de saúde. Esses estigmas acabam impedindo esse debate e essa troca de informações com a sociedade.
Diante dessa realidade, precisamos ampliar o diálogo sobre saúde sexual de mulheres lésbicas e bissexuais, a fim de oferecermos informações e acolhimento e contribuirmos com a diminuição do número de contaminações provenientes de práticas sexuais entre a população feminina.
Há riscos de transmissão de ists no sexo entre mulheres? Por quê?
Sim, o sexo entre mulheres envolve o contato de pele, mucosas e fluidos corporais. Portanto, quando desprotegido, também possibilita o contato com microrganismos causadores de infeções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Algumas dessas infecções pertencem a uma classe de ISTs bacterianas (clamídia, gonorreia e sífilis) e outras contemplam o grupo de ISTs virais (HPV, HIV, herpes e hepatite C), mas nenhuma delas faz distinção de gênero ou orientação sexual.
Existem métodos de prevenção para o sexo seguro entre mulheres?
Apesar de pouco estudados e de tratar-se de recursos pouco utilizados e, muitas vezes, adaptados, sim. Seguem algumas opções:
Luva ou dedeiras (de látex) – proteção de vulva e vagina durante manipulação com as mãos, em casos de ferimento;
Calcinhas de látex – barreiras que ajudam a manter a sensibilidade no contato do sexo oral ou vulva-vulva e garantem certa proteção na transmissão de ISTs;
Dental Dam – folha de látex comumente utilizada em consultórios odontológicos, mas que também pode ser utilizada no sexo oral como barreira à entrada de microrganismos que causam ISTs. Porém, esse produto muitas vezes não é encontrado à venda no Brasil;
Camisinha masculina recortada – o objetivo é transformá-la em uma folha de látex para ser usada no sexo oral. Basta tirar o anel da base da camisinha, cortar no sentido do comprimento e cobrir a vulva.
Camisinha feminina – sua extremidade exterior recobre a vulva e ajuda a prevenir ISTs no contato vulva-vulva e boca-vulva, além de garantir proteção da mucosa vaginal caso haja penetração com dedos ou objetos sexuais.
Existem outros cuidados, recomendados por ginecologistas, que vão além dos métodos em si?
Observação: atenção a feridas, verrugas ou bolhas que possam estar presentes na boca, mãos e/ou genitália, para minimizar o risco de transmissão.
Diálogo: trocar informações a respeito de prováveis desconfortos que a parceira possa estar sentindo (exemplo: corrimentos com odor, dor ao urinar) também contribui para diminuir contágios desnecessários.
É importante ter conhecimento de exames ginecológicos da parceira? Como uma pode ajudar a outra a estar em dia com a saúde íntima?
Sim! Manter exames de ISTs e sorologias em dia – de preferência anualmente – ajuda a diminuir os riscos de exposições a microrganismos sexualmente transmissíveis.
Além disso, atualizações vacinais e exames de acompanhamento ginecológico de rastreio (coleta de Papanicolau, por exemplo) são indispensáveis para manter a saúde de qualquer mulher sexualmente ativa, independentemente de frequência ou prática sexual.
E o uso de brinquedos sexuais? Como eles podem ser higienizados?
Os brinquedos sexuais devem ser higienizados com sabão neutro, sabonetes específicos ou álcool 70%. Além de higienizá-los antes e depois de usá-los, idealmente não devem ser compartilhados e precisam sempre ser usados com preservativo.
Existem cuidados específicos com a boca e com as unhas? Quais são?
Cuidados básicos de higiene bucal e das mãos são indispensáveis para práticas seguras. Além disso, é importante lembrar que o uso de acessórios (“piercing”) aumenta o risco de perfuração direta, que acaba servindo como porta de entrada para microrganismos, e da barreira de proteção escolhida para o momento.
Em relação às unhas, o ideal é mantê-las sempre curtas e limpas para evitar o acúmulo de secreções e o contato com qualquer patógeno causador de ISTs.
E nos dias de menstruação? Há mais chances de transmissão de doenças?
Sempre sugerimos que se evite manter relação sexual durante o período menstrual ou que se reforce o uso de métodos de barreira durante a menstruação. Isso porque o sangue é sabidamente uma secreção que pode vir a conter altas cargas de vírus (principalmente hepatite C e HIV) e demais microrganismos.
DICAS E SUGESTÕES DE LEITURA, SÉRIES, PODCASTS OU QUAISQUER OUTROS MEIOS INFORMATIVOS PARA AS MULHERES CONSULTAREM MAIS COISAS A RESPEITO DO TEMA:
Livro
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Como usar Dental Dam
Como usar preservativo feminino
Preservativo masculino cortado
Perfis do Instagram que abordam o tema
Cartilhas para o público leigo
Dra. Rebeca Gerhardt, ginecologista e obstetra
CRM-SP: 189.945"