Saúde e bem-estar

Desmistificando a anatomia feminina e os escapes de xixi

Tati Barros
14 Sep, 2022
4 min. de leitura
desenho da anatomia feminina

Se você pensa que somente daqui a 20 ou 30 anos vai precisar se preocupar com a incontinência urinária, sente aqui que eu vou provar o contrário. Os escapes de xixi podem aparecer em quaisquer pessoas, independentemente de idade, gênero, nível de atividade física ou número de filhos; todos nós podemos sofrer com disfunções no sistema urinário algum dia.

 

Você, pessoa que menstrua, provavelmente no meio da correria do dia a dia, entre trabalho, estudo e família, nunca parou pra pensar no assunto, mas a verdade é que você deveria refletir sobre incontinência urinária hoje mesmo, enquanto ela ainda não passa de um medo distante. Isso porque a incontinência não surge de um dia para o outro, mas se desenvolve ao longo de anos e anos, a partir de propensões biológicas, também como consequência de comportamentos disfuncionais que comumente apresentamos ao longo da nossa vida. O que eu proponho a você hoje é uma jornada para conhecer a sua anatomia, o funcionamento da sua bexiga, a sua relação com a menstruação e como, a partir de hoje, você pode cuidar melhor desse sistema e prevenir (e até mesmo tratar) os escapes de xixi.

 

Um raio-x pela pelve

desenho da anatomia feminina

 

Esta imagem acima é uma representação de como os seus órgãos estão localizados dentro da pelve, em toda essa região abdominal que fica entre o seu umbigo e a sua vulva. O primeiro órgão ali na frente é a bexiga, um órgão em forma de balão (como o próprio nome diz), que tem a função de armazenar todo o xixi produzidos pelos seus rins.

 

Ela funciona como uma caixa d’água, pois possui sensores que percebem o quão cheia está. E, quando tinge o limite do seu volume, avisa ao cérebro que precisa ser esvaziada. Ciente do quão cheia a bexiga está, o cérebro ordena que ela se contraia, o que permite que você sinta vontade de fazer xixi e assim se dirija até o banheiro.

 

Para que a bexiga se esvazie, é preciso não apenas que ela se contraia, mas também que a “torneira esteja aberta”. A torneira aqui é a uretra, um caminho que conecta a bexiga com o lado de fora do seu corpo.

 

desenho de bexigas

 

O segundo órgão representado é o útero, que possui um formato de pera e possui como função manter o bebê durante 9 meses bem protegido. Todos os meses, o seu útero, em resposta à ação de vários hormônios produzidos pelo seu corpo, produz uma estrutura chamada endométrio. O endométrio é a camada mais interna do útero, comporta basicamente sangue e nutrientes, e a função dele é formar uma camada protetora no útero, que funciona como um berço para segurar e nutrir o feto, caso você engravide.

 

E se você não engravidar... Bem, aí seu corpo entende que aquele endométrio é desnecessário e o envia pra fora, pela vagina, e é isso que nós chamamos de menstruação. No mês seguinte, um novo endométrio é preparado e, mais uma vez, expelido na forma de menstruação; é um ciclo que se mantém ao longo de toda a sua vida reprodutiva, que só para se você engravidar, estiver fazendo uso de algum contraceptivo hormonal ou, ao final, com a menopausa.

 

desenho de sistema reprodutor feminino

 

Bexiga e útero, assim como as outras estruturas pélvicas, como ovários, reto, uretra e vagina, estão conectados e sustentados pelo assoalho pélvico, que funciona como uma rede de músculos, ligamentos e fáscias. Por sua localização e intensa conexão com esses órgãos, o assoalho pélvico está diretamente relacionado à continência da bexiga, à sua sexualidade e à menstruação.

 

Você já se olhou no espelho?

desenho de anatomia feminina

 

Se você já teve a experiência de olhar a sua região íntima no espelho, você provavelmente percebeu que existem três diferentes buraquinhos saindo de lá. O primeiro deles é a uretra, por onde sai o xixi, como nós já conversamos. O segundo buraquinho é a vagina, por onde sai a menstruação. Esses dois primeiros estão localizados na vulva, que é a região protegida por lábios e pelos. O terceiro orifício é o ânus, por onde saem as fezes, localizado logo abaixo da vulva.

 

Essas três saídas, assim como os órgãos internos ligados a eles, também estão intimamente conectadas a partir do assoalho pélvico. Nessa rede muscular, estão uretra, vagina e ânus, fazendo com que qualquer alteração positiva ou negativa em um deles interfira diretamente nos outros dois. Portanto, essas estruturas individuais funcionam também como uma unidade.

 

O que é incontinência urinária?

Agora que você já conhece melhor seu corpo e sabe como a bexiga funciona, preciso que você entenda que a continência é uma função biológica essencial do seu organismo. Isso significa que, conseguir segurar o xixi dentro da bexiga até o momento de chegar ao banheiro é tão importante quanto conseguir se alimentar, respirar e fazer cocô: é indispensável.

 

Em outras palavras, qualquer perda de urina, seja ela em grande ou pequena quantidade, já é considerada incontinência urinária e necessita de um tratamento especializado, pois CADA GOTINHA CONTA!

 

Na incontinência urinária, existem dois fatores que precisam ser levados em conta: a funcionalidade do seu assoalho pélvico e a ativação da sua bexiga.

 

Sobre a funcionalidade do assoalho pélvico:

Se já entendemos que o assoalho funciona como uma torneira que controla a saída da urina, fica lógico compreender que, se a torneira estiver com defeito, a água vaza. Na presença de escapes de xixi, é preciso investigar como está o assoalho pélvico, pois ele pode estar, por exemplo, muito fraco e, com isso, incapaz de exercer sua função de manter a urina dentro da bexiga durante atividades, como tossir, espirrar, rir e fazer atividades físicas.

 

Mas o assoalho de quem perde xixi pode estar também muito tenso e cheio de pontos de dor, o que além de impedir que os músculos se contraiam (é só lembrar da dificuldade que temos em andar quando as costas doem por exemplo), gera ainda dores durante as relações sexuais e pode gerar, inclusive, cólicas e alterações no seu ciclo menstrual.

 

Sobre a ativação da bexiga

Já expliquei lá em cima que, como a bexiga é uma caixa d’água, precisa saber o momento certo de encher e esvaziar. Se esse mecanismo não funciona, pode acontecer tanto de ele se encher demais e transbordar quanto ter uma percepção alterada do seu enchimento e começar a se contrair exageradamente antes da hora; é isso que chamamos de “hiperatividade da bexiga”.

 

Imagine agora que você está menstruada e sofre de hiperatividade na bexiga. Na menstruação, o útero se contrai levemente para expulsar o sangue (o que gera aquele desconforto abdominal), mas pela proximidade e intensa conexão entre esses órgãos, isso pode ser suficiente para piorar as contrações da bexiga e, portanto, agravar os sintomas de incontinência nesse período do mês.

 

Resumidamente, bexiga, útero e assoalho pélvico estão em constante sintonia, pois um interfere diretamente no outro em todas as nossas atividades fisiológicas e comportamentais.

 

E, agora, o que eu faço?

Depois de tudo isso, espero que já tenha intuído que você, que é jovem, ativa(o) e menstrua, não está a salvo da incontinência urinária e precisa se cuidar desde hoje para tratar os escapes já existentes ou prevenir que eles venham a aparecer com o envelhecimento. Segure aí então algumas dicas:

 

  • Evite consumir açúcares, carboidratos e cafeína em excesso, eles podem piorar sintomas já existentes;
  • O tabagismo também deve ser evitado, o tabaco pode não apenas piorar os sintomas, como contribuir para seu surgimento;
  • Pratique atividades físicas regulares, de intensidade moderada e com acompanhamento profissional;
  • Beba no mínimo 2 litros de água por dia: xixi com pouca água é irritativo para a bexiga;
  • Monitore suas idas ao banheiro, o ideal é fazermos xixi, em média, a cada 3 horas;
  • Vá a um fisioterapeuta pélvico pelo menos uma vez ao ano para consulta de rotina. Ele é o profissional especializado para monitorar o correto funcionamento da bexiga e do assoalho pélvico.

 

Cuide com carinho da sua pelve, e bora desmistificar o papo-calcinha!

 

 

REFERÊNCIAS

BARACHO, E. Fisioterapia aplicada à saúde da mulher. Editora Guanabara. 6ª edição, 2018.

GUYTON, A. C. e HALL, J. E. Tratado de Fisiologia Médica. Editora Elsevier. 13ª edição, 2017.

NETTER, F. H. Atlas de anatomia humana. 7ª ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2019.

SETEPHENSON, R.; O’CONNOR, L. Fisioterapia aplicada à Ginecologia e Obstetrícia. Editora Manole. 2ª edição, 2004.

 

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