Gravidez na adolescência - uma questão de saúde pública e educação
A Gravidez na Adolescência é um problema social de todos, desde a educação até a saúde pública precisamos evoluir, trazer o entendimento e ensino sexual. Veja mais!
Muito longe da afirmativa "só engravida quem quer", precisamos conversar sobre adolescentes engravidando e como mudar essa realidade
Meninas, agora o assunto é sério. Precisamos falar de gravidez na adolescência, o quanto isso é sério (porque muda a vida da menina para sempre) e o que podemos fazer para transformar esse cenário.
Uma pesquisa do Ministério da Saúde mostra que o número de mulheres que engravidam antes dos 20 anos, as consideradas mães-adolescentes, está caindo no Brasil, mas ainda temos indicadores preocupantes: temos uma porcentagem de 68,4 nascimentos para cada mil adolescentes e jovens entre 15 e 19 anos, enquanto que na América Latina são 65,5 nascimentos, e a média global é de apenas 46.
E, sim, a realidade está mudando - é só prestar atenção nas pessoas e nas famílias ao seu redor. Você deve ter mais de uma amiga com pouca diferença de idade para a mãe, um sinal de que essa mãe engravidou mais jovem. Mas ao olhar para suas amigas, deve ter poucas (se não nenhuma) que engravidaram na adolescência, certo?
A Organização Mundial da Saúde (OMS) entende que a adolescência já é um período de dificuldades e questionamentos por si, sem incluir no "pacote" uma gestação, com todas as mudanças físicas e emocionais que acontecem nas 40 semanas. Por isso, tem trabalhado junto aos países e parceiros para conscientizar quanto aos riscos, para mãe e bebê: parto prematuro, anemia, aborto espontâneo, eclâmpsia e depressão pós-parto são apenas alguns dos possíveis perigos. O não acompanhamento no pré-natal, que garante a saúde da mãe e do bebê, maiores chances de se submeterem a um aborto em condições inseguras (colocando as duas vidas em risco) e até mesmo de morrerem no pós-parto também precisam entrar na lista de complicações de uma gravidez precoce.
Mas, não, a gravidez na adolescência não é só uma questão de saúde pública ou de maiores riscos para a gestante. Meninas que engravidam mais cedo têm mais chances de abandonar a escola, de conseguirem empregos menos qualificados e de viverem em situação de vulnerabilidade social, por exemplo, porque também sofrem preconceito familiar, social e até religioso - e muitas vezes, são abandonadas por todos ao descobrirem a gravidez - sem falar nas dificuldades que a maioria das mães encontra no mercado de trabalho.
Ser mãe, em qualquer idade, já é uma mudança radical na vida, prioridades e responsabilidades, então colocar isso num caldeirão de emoções e questionamentos conhecido como adolescência deixa tudo mais difícil e incerto. Se não sabemos, muitas vezes, nem a profissão que queremos escolher, imagina decidir e cuidar da vida de uma criança? #puxado
Você deve estar se perguntando como podemos mudar esse cenário, e a resposta inclui, meio que invariavelmente, a educação. E se liga só em alguns dos motivos:
- Estatisticamente, meninas e adolescentes em situação de vulnerabilidade são as que têm mais chances de engravidar precocemente. O acesso à educação ajuda a eliminar a vulnerabilidade, e combate a desigualdade.
- Por educação, também queremos dizer educação sexual, que não serve para sexualizar precocemente ou ensinar ninguém a transar, mas para ensinar sobre os nossos corpos, como eles funcionam, como podemos engravidar (e a importância dos métodos contraceptivos) e também os limites entre carinho e abuso (um monte de pesquisas mostram que 80% dos abusos registrados são cometidos dentro de casa). Dessa forma, além de saber quando ela pode engravidar, essa menina fica conhecendo preservativos e outros métodos que podem ajudar a evitar uma gravidez precoce e uma IST. O tal empoderamento que as feministas tanto falam.
Já dizia a célebre sabedoria popular "o conhecimento liberta", e quanto mais nós mulheres soubermos, mais controle temos sobre nossas próprias vidas. E isso vai da escolha da roupa e do batom a quando (e se) teremos filhos.
Ou seja, não adianta lutarmos por bandeiras feministas de equalidade nas diretorias das empresas, ou falarmos de sororidade com as nossas amigas enquanto existem meninas que não tem nem ao menos as mesmas oportunidades de vida. Também precisamos trabalhar para que mais jovens tenham acesso à informação e às ferramentas necessárias para conhecerem os métodos contraceptivos e evitar essa triste realidade da gravidez precoce (apenas porque é precoce e não planejada, ok? Isso não tem nada a ver com o desejo planejado de ser mãe).
E sim, também é muito importante termos essa preocupação na hora de escolher nossos representantes (ou nossas, já que estamos falando de questões que atingem diretamente a nós, mulheres) na política. Mas incentivar a conversa sobre educação sexual - e não sobre sexo, veja bem - ajuda a derrubar todos os estigmas em torno de um assunto que existe e precisa ser debatido!
Uma sociedade mais justa para todos também é uma sociedade em que temos menos medo - e isso atualmente parece estar sobrando nos nossos corações, seja por qual motivo for. Mas falhar com suas meninas e jovens, permitindo que elas percam oportunidades por falta de acesso à informação, faz de nós uma sociedade que precisa de mudanças. Ainda bem que essa mudança pode ser feita em todas as esferas e escalas: podemos pressionar nosso Congresso por leis e políticas que facilitem o acesso ao conhecimento ao mesmo tempo em que conversamos com meninas e mulheres que ainda pensam que o coito interrompido é um método contraceptivo seguro ou que a gravidez precoce não é um problema, pois a educação não é tão importante assim para uma mulher.
Ah, e também podemos apoiar o trabalho de ONGs, como a Plan International (apoiada por nós, da Intimus) e organizações da sociedade civil que já pensaram e trabalham em iniciativas nessa área, levando informação, preservativos e outras ferramentas para as comunidades mais vulneráveis. Sua doação pode ser financeira ou até mesmo com trabalho voluntário, e não deixa de ser importante, ok? Sem contar que é sempre bom conviver com pessoas fora da nossa "bolha".